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Jorge Manuel Teixeira Viana nasce em Lisboa em 1924 numa família burguesa. Estuda na Escola de Belas Artes da capital, diplomando-se em 1952. Ainda estudante colabora, entre 1946 e 1953, com os arquitectos Carlos Chambers Ramos e Carlos Manuel Oliveira Ramos. É neste escritório que realiza em co-autoria o estádio do Restelo para o Clube de Futebol “Os Belenenses”, publicado na revista Arquitectura, em 1952 (num número preparado por Francisco Keil do Amaral, Conceição Silva e Rafael Botelho). Sobressai no projecto a concepção estrutural e um forte apuramento construtivo, daí decorrente, prevendo-se desde logo a utilização de “um sistema misto de alvenaria e betão armado” tendo em consideração que, “se por um lado toda a estrutura é em betão armado, os movimentos de terras necessários, provocam vários muros de suporte [em] alvenaria aproveitando na medida do possível a pedra arrancada do local”. A adequação dos sistemas de construção a cada projecto e a sua importância na qualidade final da arquitectura acaba por se revelar, como se antecipa aqui, uma das características fortes de Jorge Viana, manifestando-se ao longo do seu percurso profissional.
     A habitação, todavia, surge como o tema central da sua arquitectura. Para o CODA (Certificado de Obtenção do Diploma de Arquitecto) apresenta um trabalho sobre habitação evolutiva a que chama “polifásica”, agrupando em torno de um volume compacto, novos corpos que aumentam a área e o programa do núcleo original. Esta reflexão conduzida numa fase muito inicial da sua carreira será determinante em projectos posteriores, reflectindo-se, p.e., na proposta de casas-pátio que desenvolve para um bairro residencial na Amadora, cuja perspectiva colorida indicia uma influência corbusiana consistente com os debates portugueses da época. O projecto é realizado enquanto está ao serviço da Sociedade Nacional de Fomento Imobiliário – Sociedade Cooperativa RL, entre 1953 e 1957, sendo a solução na época proibida pelo engenheiro Sá e Melo, director-geral dos Serviços de Urbanização do Ministério das Obras Públicas, por, ao optar pela organização em pátio, indiciar um programa ideológico subversivo.
     Em 1960, Jorge Viana ingressa no Gabinete de Estudos das Habitações Económicas da Federação de Caixas de Previdência, onde permanece quatro anos, projectando diversas células habitacionais para o bairro dos Olivais Sul, em Lisboa, p.e., que então funciona como o maior laboratório de habitação colectiva à escala do País. É no âmbito deste gabinete que realiza diversos estudos envolvendo pré-fabricação de elementos para a construção e onde manifesta espírito inventivo, criando peças especificamente dirigidas para programas residenciais. Muitas das experiências são inspiradas na própria vivência familiar, principalmente no gosto paterno pela adaptação e manipulação de rulotes e caravanas e no domínio da célula habitacional mínima que os portugueses ainda aplicam nos anos sessenta.
     A elaboração em paralelo de moradias privadas possibilita aprofundar estas pesquisas num plano mais pessoal. A casa para Paço de Arcos, datada de 1955, p.e., surge como uma antecipação da sua própria residência edificada em Oeiras, com projecto de 1958, quer no recurso a uma expressão moderna (apoiada em Richard Neutra, cuja marca nos arquitectos portugueses deste período é significativa) como na implantação destacada sobre o lote. Outros projectos residenciais, alguns não construídos, caso do ante-projecto para uma moradia na Ilha de Faro, denunciam também uma fixação no imaginário moderno heróico e, simultaneamente, reflectem um apurado domínio das ferramentas de desenho. Comunicam igualmente o apelo que sente pelos temas ligados ao mar e aos desportos náuticos.
     Monta atelier com os arquitectos António Matos Gomes e Francis Leon, em 1960, na Av. Duque de Ávila, em Lisboa, com quem trabalha até ao início dos anos oitenta. Na sua actividade como profissional liberal experimenta naturalmente outros programas, desenhando um conjunto significativo de equipamentos públicos. Entre estes, Jorge Viana gosta de destacar edifícios como as igrejas (Tabaqueira, Albarraque, 1964), as estalagens, os mercados (Castro Verde, 1977; Odemira e Vila Nova de Milfontes, 1978), os centros paroquiais, as creches ou os lares de idosos (Misericórdia de Castro Verde, 1978). Alguns expõem de modo muito directo outro aspecto que explora na sua obra – a relação com as artes plásticas, principalmente através da introdução de materiais de conotação “portuguesa”, como o azulejo ou a calçada, cuja influência brasileira admite como expressiva de uma época. Exemplo da integração das artes nos seus edifícios é a igreja da Tabaqueira onde recorre à colaboração de Lima de Freitas, também autor dos painéis azulejares que revestem partes significativas da sua própria casa. Esta parceria permite a Jorge Viana concretizar o desejo em aportuguesar estes elementos plásticos, recorrendo a temas associados à nossa tradição.
     Na sua casa desenha o mobiliário ou os azulejos da cozinha, ensaia sistemas construtivos modulares (que permitem reverter espaços) e processos técnicos inovadores (como o fecho das janelas que tornam a sala comum da casa numa varanda aberta sobre a paisagem de Oeiras).
     No projecto dos anos sessenta para a Celbi (Celulose da Beira Industrial), na Figueira da Foz, onde é responsável pelo complexo, traçando as estruturas produtivas, os edifícios administrativos e as residências (que incluem desde casas para quadro superiores, como cerca de 132 habitações para operários), concretiza uma das obras mais representativas do modo como interpreta a profissão, cruzando exigências funcionais com soluções construtivas e estéticas. Matos Gomes e Francis Leon desenvolvem também alguns dos projectos do conjunto.
     Num outro projecto não construído, de 1968, uma urbanização de apartamentos para a Quinta da Malata, Praia da Rocha, insiste no carácter experimental com que encara a prática da arquitectura, recorrendo a esquemas metabolistas (recorrendo a módulos pré-fabricados que se sobrepõem) e a imagens profundamente enraizadas na cultura internacional dessa década, que entram em Portugal por via do escritório de Conceição Silva.
     Será ainda arquitecto da Câmara Municipal de Oeiras por dois períodos distintos, entre 1957 e 1960 e, depois, entre 1974 e 1977. Nesta fase revolucionária, desempenha um papel fundamental na Comissão Administrativa, como independente, criando os gabinetes de Planeamento e Recuperação de Clandestinos. Utiliza depois esta experiência no município da Moita, como chefe dos Serviços Municipais de Habitação e Chefe do Gabinete de Recuperação de Clandestinos (1977-1983), dedicando-se ao planeamento urbanístico. É a pensar nas autarquias dispersas a Sul do Tejo que, cerca de 1980, decide criar um serviço ambulatório, apetrechando uma carrinha Fiat com os meios mínimos para a execução de pequenos projectos.
     A sua última fase profissional arranca em 1983, ficando associada à Consulmar, empresa de consultores de estruturas e instalações portuárias e enveredando então por uma linguagem de conotação pós-moderna. Aqui, Jorge Viana multiplica-se pelos projectos de arquitectura, urbanismo e gestão paisagística. Desenvolve estruturas portuárias de grande escala, caso do porto de Aveiro, desenhando também as suas instalações. Projecta igualmente os estaleiros navais de Vila do Conde, os arranjos da margem Norte e doca da Figueira da Foz, ou o parque desportivo de Angra do Heroísmo.
     É na residência de Oeiras que Jorge Viana vive hoje, uma casa que dotou de engenhos funcionais e sistemas reversíveis, tornando-a na “máquina” perfeita.|

 


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